Envie a sua questão


terça-feira, 30 de agosto de 2022

Marisa: "Sempre é tempo"

    Meu problema com a minha mãe tóxica foi sempre amá-la muito, isto é, sem perceber, me colocar diante dela como a menininha que não entendia por que a mãe a espezinhava; e se atribuia a culpa, "algo eu devo ter feito que provoca, na minha mãe, essa reação de raiva por mim". 

    Mas o tempo passou, e muita psicanálise depois, enfim encontrei um analista desses que falam - não apenas pretendem, como o psicanalista, nos levar a falar o que talvez nunca tenhamos a coragem de reconhecer, quanto mais verbalizar. Enfim, esse analista - linha cognitivo-comportamental, rapidamente me disse o quão narcisista é essa mãe, e o quanto eu me comporto como menininha diante dela, eu imbuída do narcisismo infantil de um dia quem sabe conseguir me fazer merecedora do seu amor.

     Finalmente, eu pude me reconhecer como uma adulta que tem uma mãe que jamais vai me amar, pois só ama a si mesma. E tanto, que, o quanto mais eu me mostrar meritória dos seus elogios, mais ela me espezinha - porque me inveja: "espelho espelho meu, por que a Marisa é tão mais idônea, forte, corajosa e generosa do que eu?" 

    Estou liberta da menininha que amava tanto a mãe que não se permitia crescer para não despertar a sua inveja. Da menininha que sempre se perguntava "por que quanto melhor eu faço, mais ela me odeia?" 

    Hoje, finalmente, eu gosto de mim sem mais implorar pela aprovação dela. Fica um gostinho de tristeza? Claro que sim.... Que pena eu ter tido e ter essa mulher tão precária como minha mãe. Mas, finalmente ter podido reconhecer a sua precariedade, como pessoa, me deu uma liberdade existencial incomensurável. 

    Eu renasci como sempre deveria ter sido, desde o meu nascimento. E ainda é tempo!

Marisa




    
    Querida Marisa, 

    Em primeiro lugar, quero lhe agradecer. Você é a primeira leitora a participar deste blog. E abre esta colaboração, com brilho! Mostrando que é, de fato, uma pessoa corajosa, idônea, forte e generosa, cuja experiência certamente levará outros, como você, a procurarem auxílio.

    A sua mensagem é, principalmente, uma luz de esperança para quem ainda não conseguiu "matar" um genitor tóxico, para encontrar a salvação e poder renascer, segundo as suas palavras, "como sempre deveria ter sido, desde o nascimento". 

    Você escolheu muito bem a palavra "precariedade". Ela define perfeitamente o caráter de certas pessoas nas quais - às vezes nem mesmo por falta delas e sim de seu passado, relações parentais e neuroses - não podemos depositar nenhuma confiança. 

    Tenho certeza de que a sua relação com a sua mãe ficou muito mais fácil, e o seu amor por ela ficou mais claro e definido pela distância, desde que você a "matou". Parabéns!

    A batalha #MeTooMãeTóxica continua. Até mais, este espaço é seu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade. Faça o seu comentário.